Riscos estão se acumulando
Os riscos e ruídos de curto-prazo para os mercados
financeiros globais estão se acumulando. Em um período de final de ano, onde a
liquidez é escassa, e a propensão a tomar risco naturalmente menor do que no
resto do ano, o aumento da incerteza está levando a um movimento de perda de
correlação dos ativos e claro movimento de redução ou zeragem de posições.
Assim, estamos vendo, desde ontem, um movimento de queda nas bolsas,
especialmente nos países desenvolvidos. O USD está mais fraco, com as
commodities em leve alta e os bonds
norte americanos apresentando fechamento de taxa.
Na minha visão, não há mudança substancial de
cenário que justifique uma alteração drástica das tendências que vinham se
desenhando já há alguns meses (USD forte, abertura de taxa de juros nos EUA,
queda no preço das commodities, entre outras). Contudo, alguns riscos de
curto-prazo não podem ser ignorados, assim como a posição técnica ruim de
algumas classes de ativos. Neste ambiente, recomendo uma cautela maior no portfólio,
seja via posições menores, ou através da busca de hedges baratos (na manhã de ontem adicionei puts de S&P a
posição comprada em USD que carrego a alguns meses juntamente com posições
tomadas em juros americanos).
No que diz respeito aos riscos para o cenário, vejo
alguns vetores de preocupação:
- A forte queda no preço do petróleo colocou a Rússia
em situação extremanente frágil. OS ativos locais sofreram piora dramática nos
últimos dias e não há nenhum sinal de estabilização. Hoje, o RUB deprecia 0.8%,
os swaps de 1 ano abrem mais 200bps para 19.5% e a bolsa local cai mais 2%.
Onde será o fundo do poço? Qual o tamanho do contágio para o resto do mundo
caso a situação não seja urgentemente estabilizada? Quem será o próximo país
dependente do petróleo que irá “afundar” junto a Rússia? Venezuela? Algum país
Árabe? Os riscos provenientes do país são reais e não parecem precificados nos
demais ativos de risco, especialmente nos países emergentes.
- Nos EUA, a forte melhora no mercado de
trabalho deve levar o Fed a alterar sua postura na próxima reunião do FOMC. Uma
alta de juros está cada vez mais próxima. Apensar de estar conduzindo um
processo extremamente gradual e bem comunicado, o mundo não vê uma alta de
juros no país a mais de 5 anos. A liquidez, apesar de ainda abundante, será
menor nos próximos meses. A reação do mercado a este cenário ainda é uma
incerteza grande e que deveria trazer volatilidade aos mercados.
- Na China, o governo anunciou hoje medidas
restritivas ao mercado de crédito, o que levou a maior queda desde 2009 nas
bolsas locais (-5%). O menor crescimento estrutural do país fica a cada dia
mais evidente. O governo se mostra disposto a atuar, de maneira pontual e
localizadas, a fim de evitar uma nova espiral de desaceleração da economia.
Contudo, o novo governo chinês está disposto a pagar o preço de um menor
crescimento no curto-prazo em favor de promover as reformas estruturais
necessárias para o melhor andamento da economia no longo-prazo. Assim, os
investidores ainda precisam se acostumar com um ambiente em que a China irá
crescer estruturalmente menos, sem que o governo haja de maneira ampla e
agressiva evitando esta desaceleração.
- Na Grécia, a despeito do anuncio de uma
extensão por dois meses do programa de ajuda financeira ao país, que estava
agendado para ser encerrado no final deste ano, eleições parlamentares foram
anunciadas. Com o Syriza, partido radical de esquerda, liderando as pesquisas,
os riscos de que o novo governo não atenda os requisitos para que um novo
programa de suporte financeiro seja acordado aumentam consideravelmente. Este
ambiente deveria trazer maior incerteza e volatilidade aos ativos do país e de
toda a região.
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