Brasil: Começa o ajuste fiscal

Brasil - Os dados fiscais de novembro, divulgado ontem, foram tenebrosos, não apenas apresentando déficit primário no mês, mas muito aquém das expectativas do mercado. De qualquer maneira, a notícia pode ser lida de forma positiva, pois pressupõe o começo do fim da contabilidade criativa utilizada pelo governo nos últimos anos. O ano de 2014 já está ficando para trás. As notícias negativas já são um fato, mas o futuro parece reservar contas públicas mais transparentes e um ajuste fiscal crível. No final da segunda-feira, o governo anunciou as tão esperadas (e ventiladas) medidas de contenção de gastos em áreas como Seguro Desemprego, Pensão por Morte e Abono Salarial. As medidas preveem economia de cerca de R$18bi por ano ou em torno de 0.3% do PIB. As medidas estão longe de serem resoluções definitivas para as contas públicas brasileiras, mas certamente são um começo promissor para a nova equipe econômica.

Além disso, nas últimas semanas, e ratificado pelo Relatório de Inflação do BCB na semana passada, um documento oficial, Tombini e Cia. adotaram discurso mais duro, deixando ainda mais claro as intenções de trazer a inflação de volta ao centro da meta no horizonte de 2 anos. A curva local de juros ainda precifica em torno de 170bps de alta de juros nas próximas reuniões do Copom, com a reunião de janeiro precificada uma alta de 65bps. Acredito que o BCB deverá manter o “plano de voo” de altas de 50bps. O ajuste fiscal, por sua vez, deveria ajudar o BCB para que o ciclo de alta de juros não seja tão extenso e, muito menos, que seja necessário acelerar o processo de alta na taxa Selic. Ainda me parece cedo para prever até onde este ciclo de alta de juros irá chegar, mas trabalharia com um cenário de mais duas altas de 50bps como cenário base. A fraqueza do crescimento, a deterioração no mercado de trabalho e uma política fiscal mais apertada deveria ajudar o BCB no trabalho de conter a escalada inflacionária, mesmo já trabalhando com um IPCA próximo a 1% nos próximos meses.

O anuncio das primeiras medidas fiscais feitos ontem à noite, aliado a liquidez baixa, estão ajudando o movimento de apreciação do BRL, fechamento de taxa de juros local e flattening da curva, com o Jan21/Jan17 já operando a -60bps. Continuo vendo valor na barriga e na parte longa da curva de juros Brasil. O BRL continua sendo um dos maiores riscos as posições aplicadas em juros locais. O cenário externo ainda me parece muito favorável ao USD no mundo, o que pode manter o BRL em tendência de depreciação ainda por algum tempo, mesmo que movimentos pontuais de apreciação, como o verificado hoje, ocorram na mercado de câmbio.

EUA – Os números de atividade econômica divulgados hoje voltaram a mostrar uma economia em ebulição. O preço dos imóveis, medido pelo CaseShiller, apresentaram alta de 0.76% em outubro, acima das expectativas de 0.40%. Além disso, o Consumer Confidence saiu de 91.0 para 92.6 pontos em dezembro, mantendo-se muito próximo aos maiores níveis desde 2007. A abertura do indicador foi bastante positiva, com o quesito referente ao mercado de trabalho apresentando mais um mês de avanço, o que aumentam as expectativas positivas para a divulgação oficial dos dados de emprego de dezembro, a serem divulgados na sexta-feira dia 9 de janeiro.

Mercados – Após cerca de duas semanas onde as tendências do ano foram acentuadas pela baixa liquidez dos mercados (USD forte, alta das bolsas nos países desenvolvidos, taxas de juros contidas na Europa e etc), estamos vendo os primeiros sinais de realização de lucros neste penúltimo dia do ano. As bolsas da Europa operaram em baixa ao longo de todo dia, talvez afetadas pelos desdobramentos na Grécia e a ausência de uma estabilização mais consistente dos ativos na Rússia. O Petróleo também apresenta dificuldades em se estabilizar. O desempenho ruim das bolsas na Europa acabou afetando o humor das bolsas norte americanas. Enquanto isso, o mercado de juros americano apresenta fechamento de taxas, e as commodities operam em alta.O dia de hoje me parece um clássico exemplo de realizações de lucro.

Vejo o mercado tecnicamente leve em todas as direções, com os investidores pouco propensos a tomar risco ao longo de todo o mês de dezembro. Trabalho com um cenário de fortalecimento do USD no mundo em 2015, uma tendência de abertura gradual de taxa de juros nos EUA e um ambiente ainda desafiador para os países emergentes. O crescimento chinês deve apresentar alguma volatilidade, mas com claro viés negativo, o que deveria manter as commodities metálicas em baixa. As bolsas americanas parecem esticadas, enquanto Japão e Europa mostram mais espaço para re-rating. De qualquer maneira o cenário macro se mostra positivo para a bolsa americana, salvo realizações pontuais. Vejo riscos pontuais e localizados, como Crescimento Chinês, Política na Grécia, Rússia, Petróleo e normalização monetária nos EUA. O tamanho do efeito colateral que estes eventos podem gerar nas demais classes de ativos devem ser medidos ao longo do tempo, de acordo com o surgimento de cada um desses ruídos no cenário. 

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