China em Foco
Os ativos de risco estão basicamente digerindo os
dados de emprego norte americanos divulgados na sexta. Assim, os mercados
globais vêm dando continuidade ao movimento que já vem se desenhando a algumas
semanas, ou seja, USD forte, queda no preço das commodities, acomodação no
patamar das bolsas dos países desenvolvidos e abertura de taxa dos juros nos
EUA. A abertura de taxas dos juros nos EUA está colocando um tom mais negativo
para os ativos emergentes, com suas bolsas em leve queda, apreciação do USD/EM
e abertura de taxas de juros nesta região do mundo.
O final de semana foi de poucas novidades
relevantes. A agenda da semana será igualmente menos agitada, com destaque
apenas para as vendas no varejo no Brasil e nos EUA na quinta-feira, mesmo dia
da Ata do Copom. Assim, os números de atividade econômica e inflação na China
devem ser os grandes destaques da semana.
Brasil
– O fluxo de
notícias para o país está bem menos intenso do ponto de vista econômico desde a
nomeação da equipe que irá comandar a economia do país neste segundo mandato de
Dilma. Joaquim Levy e Nelson Barbosa devem ser empossados essa semana, e é
possível que já sinalizem com quais medidas pretendem colocar em prática para
trazer as contas públicas para um caminho mais saudável. Os ativos locais vêm
mostrando sinais de “outperformance”
nos últimos dias. Na minha visão, isto já seria uma indicação que o nível dos
prêmios de risco nos ativos brasileiros, frente à possibilidade real de ajustes
na economia, justifica o mercado dar o benefício da dúvida a esta nova equipe
pelo menos nos primeiros meses de governo. Continuo vendo, contudo, a dinâmica do
BRL como uma função do movimento do USD no mundo e postura que será adotada
pelo BCB no tocante aos swaps cambiais. A curva de juros, por outro lado, me
parece um instrumento mais fácil para se posicionar para eventuais melhoras dos
fundamentos locais. Devido a recente mudança do cenário para os juros nos EUA,
me concentraria na barriga da curva, sem estender a duration de maneira muito acentuada neste momento. A sinalização do
BCB após ao Copom, um ambiente de crescimento estagnado e sem sinais concretos
de recuperação e a possibilidade de melhora do cenário fiscal, são bons
argumentos para acreditar que o ajuste na taxa Selic será menos intenso do que
aquele precificado pela curva local de juros.
China
– A despeito
de novas evidências de desaceleração da economia, as bolsas locais tiveram mais
um dia de forte alta, atingindo o maior patamar desde 2011. Vale a pena
ressaltar, contudo, que a alta dos mercados locais nada tem a ver com o cenário
macro, mas se deve a questões pontuais e localizadas. O maior exemplo disso é
que as commodities seguem sua trajetória de queda, a despeito do movimento das
bolsas locais. A recente conexão da bolsa chinesa aos mercados de Hong Kong,
aliado a falta de alternativas de investimentos, já que o mercado imobiliário
está em um momento ruim e o mercado de crédito passa por ajustes relevantes (e
por um período de incerteza), estão sendo vetores relevantes de sustentação das
bolsas chinesas. Do ponto de vista econômico, os sinais de fragilidade da
economia continuam se acumulando. Em novembro, as Exportações saíram de 11.6%
YoY para 4.7% YoY e as Importações caíram acentuadamente de 4.6% YoY para -6.7%
YoY, ambos muito abaixo das expectativas do mercado de, respectivamente, 8% YoY
e 3.8% YoY. Mantenho minha visão de que novas medidas de suporte ao crescimento
devem ser anunciadas ao longo das próximas semanas, mas devem ter o intuito de
evitar novas rodadas de desaceleração do crescimento. Dificilmente serão fortes
o bastante para levar a economia chinesa a uma nova trajetória de crescimento
mais robusto.
EUA
- Os dados de emprego de novembro, divulgados na sexta-feira,
confirmaram um quadro de robustez da economia. Após dois trimestres
consecutivos de crescimento acima de 4% anualizado, a economia parece estar se
acomodando neste ultimo trimestre do ano, mas em patamar muito mais robusto do
que o imaginado. Assim, como Dudley e Fisher já haviam sinalizado durante a
semana passada, o Fed parece disposto a manter seu “plano de voo” e dar
continuidade ao processo de normalização monetária gradual na economia
americana. Mesmo sem sinais claros de pressões inflacionárias, o melhora no mercado
de trabalho já justifica uma mudança de postura por parte do Fed. Além disso,
com os juros a zero por anos seguidos, o Fed tem uma oportunidade única de
normalizar parte de sua política monetária para, até mesmo, ter “munição nova”
caso uma nova crise assole o país nos próximos anos, o que está longe de ser um
cenário base. O cenário atual continua sendo positivo para o USD e deveria
favorecer uma alta gradual das taxas de juros nos EUA. As consequências para o
resto do mundo dependem da velocidade que o movimento no USD e nos juros EUA
irá acontecer.
Europa – A produção industrial da Alemanha apresentou alta de 0.2% MoM em outubro, abaixo das expectativas de 0.4% MoM e após revisão baixista do mês anterior de 1.4% MoM para 1.1% MoM. O país continua sendo um dos únicos pilares de crescimento consistente na região mas, mesmo assim, mostra sinais de fadiga nos últimos meses. A Europa está fadada a um crescimento em torno de 1% nos próximos anos, com inflação perigosamente baixa. Passada a reunião do ECB, Draghi terá um grande desafio nos próximos meses em forjar um consenso para que o programa de QE privado já anunciado na região seja expandido para ativos mais amplos. Acredito que, no limite, este consenso, ou uma maioria, será atingida, mas talvez para isto a situação economia tenha que se deteriorar de maneira mais acentuada nos próximos meses.
Japão
– O PIB do 3Q
foi revisado para baixo, de -0.4% QoQ para -0.5% QoQ, abaixo das expectativas
de -0.1% QoQ. O numero dá força as recentes medidas anunciadas pelo BoJ. O
próximo grande evento no país ficará por conta das eleições parlamentares, onde
as pesquisas recentes mostram ampla maioria para o partido do atual governo.
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