Da Inflação para a Estagflação

By Dan Kawa

 

O dia foi de forte aversão a risco, com movimentos clássicos de “risk-off”: Bolsas em queda; forte fechamento de taxa de juros longas no mundo desenvolvido; dólar em queda contra G10 mas forte contra EM; alta das commodities metálicas preciosas, mas queda dos demais complexos; e forte queda das cryptos.

 

A alta do Ouro, queda dos juros longos e das bolsas demonstram que a narrativa do mercado começa a mudar para uma recessão e não apenas um cenário inflacionário.

 

A diferença do cenário atual com o que vimos em outros “mini crises”, como 2011/2012 (Europa), 2015/2016 (China e EM) e 2018 (aperto monetário excessivo) é que nos casos passados não tínhamos inflação e a política monetária estava a disposição para dar suporte à economia e aos mercados.

 

No ambiente atual, sem uma desaceleração da inflação, deveremos conviver com uma desaceleração ao mesmo tempo em que a inflação está elevada e a política monetária não pode ser usada como um “seguro” ou um “suporte” à economia e aos mercados.

 

O mercado está saindo da narrativa “pura” da inflação e precificando uma recessão de maneira mais aguda. Importantes eventos do dia:

 

- Alta de juros na Inglaterra (25bps esperados) e na Suíça (decisão inesperada);

- Dados econômicos negativos nos EUA, com destaque para alta do Jobless Claims (número semanal de seguro-desemprego e para a queda do Philly Fed e do Housing Starts;

- Na Europa, o ECB parece estar “batendo cabeça” para defender a alta de juros nos países da periferia, ao mesmo tempo em que precisa ajustar sua política monetária;

- A Rússi está reduzindo o fluxo de gás para a Europa, causando nova rodada de volatilidade nos preços das commodities energéticas em novo capítulo da “guerra econômica”;

- No Brasil, o BCB elevou a Selic em 50bps, como era amplamente esperado, mas com um comunicado lido como “dovish” pelo mercado, sinalizando alta de magnitude igual ou menor do que está na próxima reunião;

- Diversos fundos e exchanges de crypto apresentando problemas de liquidação, em um efeito cascada que lembra bastante a crise financeiras de 2008 com os bancos;

 

Enormes oportunidades estão sendo criadas, mas o momento não é de sermos “heróis”. Precisaremos de muita paciência, parcimônia e estômago para a volatilidade e incerteza dos próximos meses.

 

Portfólios mais diversificados, com mais caixa, fundos menos correlacionados com beta de ações e renda fixa, e proteções táticas, devem ser predominantes. O caixa poderá ser usado, aos poucos, quando o mercado parecer excessivamente negativo (ainda não acho que seja o caso) ou o cenário apresentar uma visibilidade maior.

 

*As análises e opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão institucional.

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