Daily News – Brasil: Uma experiência perigosa.


Estamos abrindo o dia com uma nova rodada positiva para as bolsas globais – que voltam a testar as bandas de cima dos “ranges” recentes – a despeito de sinais ainda mistos em outros mercados. A Lira Turca (TRY) segue sua trajetória de depreciação, o ouro continua em patamar elevado e as taxas de juros seguem pressionadas no mundo desenvolvido.

O cenário deverá continuar complexo e a geração de “alpha” por parte dos fundos/gestores voltará a ficar relevante como não vemos desde o começo do “bull market” em 2009, na minha opinião.

Queria falar um pouco sobre Brasil. O BCB cortou a Selic em 75bps para 3% e sinalizou corte adicional, não maior do que este corte de ontem. Dito isso, parece que estamos caminhando para uma Selic próxima a 2%.

Eu entendo todos os argumentos em favor do corte, entendo o sistema de metas de inflação e o que os modelos matemáticos apontam em relação a inflação de curto-prazo (1 a 2 anos). Assim, entendo e respeito a decisão do Copom e aqueles que concordam com o corte.

Contudo, vou me permitir, educadamente e humildemente, discordar deste corte. Acho que o Brasil não tem fundamentos estruturais que suportem este nível e taxa de juros. Acredito que os efeitos podem ser levemente benéficos no curto-prazo, mas podem ser extremamente maléficos no médio-prazo.

Além disso, não acredito que juros curtos mais baixos irão estimular a econômica. Não acho que o problema do Brasil, neste momento, seja o mercado de juros.

Em um ambiente de fragilidade política, com uma enorme deterioração fiscal, forte depreciação cambial e curva de juros “steepada”, o corte me parece uma “experiência” de altíssimo risco.

Devemos conviver com mais pressão altista no câmbio, curva de juros mais “steepada” (mesmo que um “bull steepening” neste primeiro momento). A bolsa pode até reagir positivamente em um primeiro momento, ajudado pelo movimento de hoje das bolsas globais, mas sem ajustes econômicos não acho o movimento sustentando.

Após a aprovação da PEC de Socorro aos Estados e Municípios, em que a contra partida do ajuste fiscal foi retirada, surgiram novamente rumores de saída de Paulo Guedes e Equipe. Estamos ainda longe de um cenário mais estável para o país, infelizmente.

No cenário global, meu receio de dados econômicos piores do que o esperado e uma recuperação mais lenta do que o precificado começa a se revelar.

Começam a surgir novamente ruídos entre China e EUA, que podem culminar em um segundo capítulo da Guerra Comercial:


O Caixin PMI Services da China ficou abaixo do esperado e abaixo de 50 pontos em abril. Venho insistindo que está crise afetou o setor de serviços e será extremamente difícil reanima-lo. Como este setor representa em torno de 60%-70% da economia dos países Ocidentais, podemos ter uma longa caminhada para sua recuperação:



Na Alemanha, a produção industrial apresentou queda de 9,2% MoM, acima das expectativas de queda de 7% MoM:



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