Update

A semana trouxe poucas novidades relevantes para os cenários local e externo. De maneira geral, os dados econômicos seguem corroborando um cenário ainda construtivo e relativamente estável para a economia global.

Neste estágio do ciclo econômico, alguma acomodação dos números é natural, como o caso da produção industrial da Alemanha, que caiu pelo segundo mês consecutivo em outubro. Ainda não vejo motivos evidentes para temer uma mudança brusca ou substancial de cenário. Não há apertos consideráveis das condições financeiras, os juros seguem baixos no mundo desenvolvido, os bancos centrais mostram gradualismo no processo de normalização monetária, não há sinais aparentes de uma aceleração mais aguda da inflação no mundo, e etc.

Nos EUA, os dados de emprego divulgados hoje reforçaram um quadro de robustez do mercado de trabalho, com uma criação ainda saudável de postos de trabalho, uma taxa de desemprego baixa, porém sem pressões muito preocupantes do lado dos salários. Este costuma ser um cenário bastante positivo para a economia dos EUA e para os ativos de risco como um todo.

A China vem trazendo algum ruído aos mercados da Ásia, com algum aperto, induzido pelo PBoC, das condições financeiras levando a alguma pressão nas bolsas. Este processo parece estar sendo guiado pelo PBoC e permanece um risco localizado e contido. Como não me parece um evento exógeno, inesperado, porém liderado pelo PBoC, tendo a acreditar que o objetivo seja trazer alguma racionalidade e desalavancagem para a economia e o sistema financeiro local. Assim, o cenário base parece ser de uma desaceleração gradual da economia. Caso estes eventos venham a trazer impactos mais relevantes para o país, tendo a acreditar que o Governo teria os instrumentos adequados para evitar uma piora mais acentuada da situação. De qualquer maneira, erros de política monetária devem ser vistos como “risco de cauda” e não como cenário base.

No Brasil, o IPCA de novembro apresentou alta de 0,28% MoM e 2,8% YoY. O quadro qualitativo do indicador continua mostrando uma inflação corrente baixa e perspectivas ainda positivas (inflação baixa) para o ano de 2018. Os números de hoje reforçam a minha visão de taxas de juros mais baixas por mais tempo no país. Acredito que ainda haja espaço para a Taxa Selic cair para algo em torno de 6,75%-6,50% e ficar neste patamar por cerca de um ano (ou mais). Neste ambiente, ainda vejo valor na parte intermediária da curva de juros. Como tenho refletido neste fórum, não acredito que a compressão desses prêmios será feita de forma rápida, mas ao longo do tempo, conforme o mercado for se convencendo, ou se tornando mais confortável, com o cenário descrito acima.

 Os ativos locais continuam bastante sensíveis aos ruídos envolvendo a Reforma da Previdência. Não tenho opinião, ou vantagem comparativa, em opinar se a Reforma será, ou não, aprovada. Tenho um viés, contudo, de acreditar que o simples fato desta questão estar na mídia está sendo negativa para os mercados locais. Acredito que, não sendo aprovada, poderemos ver alguma pressão pontual e limitada, de curto-prazo, nos ativos do Brasil, mas ainda vejo os fundamentos de médio-prazo, ainda bastante positivos, se sobrepondo a Reforma da Previdência.

Na minha visão, é inegável que o Brasil tem um problema fiscal gigantesco, que precisará ser equacionado nos próximos anos. Contudo, o cenário de 2018 será um pouco mais tranquilo do ponto de vista econômico e fiscal, com a melhora do crescimento, uma inflação e juros baixos, e receitas extraordinárias dando algum “respiro”, de curto-prazo, a situação fiscal. Isso não significa que a Reforma não seja imprescindível, mas que, caso não haja grandes alterações no cenário externo, o mercado poderá dar mais algum benefício da dúvida ao país. Contudo, uma mudança no cenário externo, em meio a um quadro eleitoral mais incerto, na ausência da Reforma, deixará o país menos “blindado”, e mais susceptível, aos fluxos de curto-prazo.

Em suma, ainda vejo valor na parte intermediária das curvas de juros (nominal e real). Vejo valor e uma posição técnica favorável no mercado de renda variável. Continuo vendo o BRL em um range entre 3,10-3,35, mas dos ativos locais é o que eu menos tenho convicção, preferindo adotar postura tática ou utiliza-lo como hedge.


Alguns comentários finais. O cenário para fluxo continua construtivo em dezembro. Teremos a emissão da BR Distribuidora na semana que vem (IPO), que pode estar trazendo algum “overhand” ao mercado de renda variável local. As emissões de dívidas corporativas continuam com demanda alta, saindo a taxas fechadas, como foi o caso do papel de BTG Pactual ontem. Em suma, a despeito da dinâmica ruim dos ativos locais, o mercado permanece bastante saudável.

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