Fed: Oops, we did it again!

Nesta quinta-feira, pela primeira vez em muito tempo, os ativos de risco reagiram de forma mais negativa a abertura de taxas de juros nos EUA. Ontem à tarde comentei que:

Na minha visão, enquanto o processo de normalização monetária por parte do Fed for percebido como gradual, a abertura das taxas de juros nos EUA será gradual e em etapas, o que permitirá um bom desempenho dos ativos de risco em geral. Caso comece a ficar a percepção de que o Fed está “behind the curve”, ou a curva passe a precificar, de maneira rápida e acentuada, um ritmo de elevação dos Fed Funds muito mais agressivo (digamos, com 3 ou 4 altas de 25bps por ano, ou mais), então poderemos conviver com um ambiente de maior instabilidade e volatilidade. Este ainda não é cenário base.

Hoje, o Jobless Claims atingiu o menor patamar desde 1973, ou cerca de 44 anos, confirmando um mercado de trabalho extremamente robusto, uma economia próxima (ou já ultrapassando) o pleno emprego e um hiato do produto praticamente fechado. Com a Treasury 10 anos testando novamente os 2,50%, mas ainda não rompendo este patamar, os ativos de risco (EM, Commodities metálicas e afins) apresentaram um dia de maior instabilidade.

Reforço minha visão de que ainda vejo um processo relativamente longo e estrutural de alta de juros nos EUA, que deveria dar suporte ao dólar, mas de forma cada vez mais localizada.

Ainda vejo o patamar de 2,50% nas Treasuries de 10 anos como excessivamente baixo, com amplo espaço para abertura de taxas diante do cenário econômico que se apresenta. Isso, antes mesmo de qualquer medida de estímulo da política econômica de Trump (suma implementação é bastante incerta, mas a direção de seu governo me parece clara, o que tende apenas a acentuar o quadro descrito acima).

Assim, por mais que eu ainda veja um cenário em que este processo (alta de juros nos EUA) ocorra de maneira gradual, não podemos descartar momentos de maior incerteza, volatilidade e instabilidade, como o verificado hoje.

No Brasil, as Notas do Copom reforçaram a mensagem dovish do comunicado após a reunião, e abriram uma janela, buscando flexibilidade, para uma eventual aceleração do ciclo de queda da taxa Selic. Neste momento, contudo, o cenário externo retorna como um vetor que precisará ser acompanhado no detalhe antes de conclusões mais concretas em torno deste tema.


Os ativos no Brasil acabaram seguindo o movimento global, com dólar em forte alta, abertura de taxas de juros e queda da bolsa. Pretendo utilizar movimentos como o de hoje, movidos apenas pelo cenário externo, como potencial oportunidade para elevar as alocações em ativos do país, mas sabendo que poderemos ter um caminho mais tortuoso no curto-prazo, vis-à-vis o cenário totalmente construtivo que vivenciamos neste início de ano.

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