Agenda carregada.

Os ativos de risco estão se adaptando/ajustando à uma agenda econômica extremamente carregada nos próximos 3 dias. Nesta ordem, teremos: PPI (terça-feira), Core CPI e FOMC nos EUA (quarta-feira), além das eleições na Holanda, na Europa.

A Treasury 10 anos está novamente testando patamares acima de 2,6%, mas ainda sem um rompimento claro. Por ora, os ativos de risco estão digerindo de maneira saudável este movimento, confirmando a visão de que a velocidade de abertura das taxas de juros nos EUA importa mais do que a sua direção propriamente dita para o humor global a risco.

Além disso, para algumas classes de ativos, como os ativos Emergentes (EM), em geral, impera uma visão de que um cenário de valuations atrativos, fundamentos mais sólidos do que no passado recente e um crescimento global saudável dão suporte a um bom desempenho, mesmo diante do cenário de normalização monetária nos EUA.

Neste pano de fundo, a agenda econômica dos próximos dias será fundamental. No cenário base, nos EUA, a inflação mostra uma alta apenas gradual. O Fed eleva as taxas de juros em 25bps, sinaliza para a continuidade do processo de normalização monetária (alta de juros,) mas sem se comprometer com uma aceleração ainda maior do ritmo de aperto.

Um cenário alternativo, com probabilidade mais baixa, porém não desprezível, seria o Fed elevar as taxas de juros em 25nps, mas sinalizar, via discurso ou dots, um ritmo mais acelerado de altas, digamos 4 por ano, por exemplo. Esta teoria seria referendada pelo cenário de emprego (pleno emprego e hiato do produto fechado) e por condições financeiras bastante frouxas.

O risco, contudo, fica por conta de dados de inflação mais elevados no país. No caso do Core CPI, uma alta de 0,3% MoM, por exemplo, seria a segunda surpresa altista seguida. Neste cenário, cresceria o receio por parte do mercado do Fed estar “behind-the-curve”. Isto poderia acarretar uma rápida e acentuada elevação da curva de juros, causando um grande estrago nos ativos de risco, pelo menos no curto-prazo. Ainda vejo este cenário como um risco, e não o cenário base.

No Brasil, a pesquisa Focus mostrou mais uma expressiva queda das expectativas de inflação para 2017, o que tem ajudado a ancorar a curva local de juros, com expectativas de uma antecipação do ciclo de queda da taxa Selic.

O cenário político segue sendo o destaque, em meio a um quadro econômico sem grandes alterações (forte desinflação, recuperação lenta, contas externas tranquilas e um quadro fiscal preocupante, mas com expectativas de reformas relevantes).

Do ponto de vista político, a mídia hoje deu grande destaque a tão esperada “Lista de Janot”, que só deverá se tornar pública, e em partes, na semana que vem. Contudo, os blogeiros de plantão começam a ventilar o que seria o vazamento de nomes e personagens envolvidos na delação da Odebrecht.  Neste momento, começam a vazar nomes de possíveis envolvidos do PSDB, de maneira mais incisiva, após um bombardeiro, no passado recente, envolvendo membros do PT e do PMDB. Por ora, não há rumor (ou confirmação) de nenhum envolvimento, ou fato novo, envolvendo diretamente Michel Temer. Isto o que pode trazer um alento aos mais pessimistas neste quesito. Contudo, o envolvimento de pessoas próximas ao presidente continua a ser ventilado “a todo vapor”. Até o momento, não vejo motivos para uma alteração do cenário político, que envolve a aprovação das reformas econômicas (em especial a Reforma da Previdência), mas temos que acompanhar de perto estes desdobramentos.

O BRL, além de seguir o humor global em torno do USD, continua negativamente impactado pela decisão do BCB na não rolagem dos swaps cambiais no mês passado. Acredito que o  câmbio continuará seguindo os fluxos externos em relação ao USD.


O Ibovespa parece ter encontrado um piso próximo aos 64 mil pontos. A melhora da dinâmica das commodities metálicas ajudou o humor do dia, a despeito de um petróleo ainda pressionado. Não vejo motivos, exceto pelo cenário de risco do Fed descrito acima, para correções mais profundas, e ainda vejo espaço para realocações nesta classe de ativo.

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