Inglaterra: Uma aposta arriscada (e confusa)

By Dan Kawa

 

Diante de forte pressão nos mercados ingleses, com forte abertura de taxa de juros, queda da bolsa e da moeda, o BoE decidiu por adotar uma medida pouco ortodoxa no atual momento do ciclo econômico.

 

Com intuito de estabilizar o mercado de juros longos no país, o banco central anunciou que irá comprar títulos longos, em caráter pontual e limitado. Além disso, irá atrasar o seu processo de venda de ativos, ou “quantitative tightening” (QT).

 

Em um momento de inflação alta, tentativa de controle inflacionário e aperto das condições financeiras, esta é a última medidas que podia imaginar ser adotada no atual estágio do ciclo econômico.

 

A medida é confusa pois vai na direção oposta do que precisa ser feito com afinco e consistência, que é o controle da inflação. A medida é arriscada pois não atua no cerne do problema, atacando apenas um problema pontual de mercado.

 

Existiam maneiras mais ortodoxas e eficazes de lidar com a situação corrente, na minha opinião. A medida de hoje pode ajudar a estabilizar a curva de juros longa no curto-prazo, mas é sem dúvida alguma uma solução temporária e pouco eficaz.

 

Seria muito mais eficiente uma alta de juros mais acentuada e uma sinalização de política monetária mais apertada no curto-prazo, como sugeriu Posen ontem (aqui: https://twitter.com/DanKawa2/status/1574867223188885504?s=20&t=OzyiwF5YGJ7wt0yWE2XOKg).

 

Uma outra solução seria uma sinalização de compromisso fiscal de longo-prazo por parte do governo.

 

As economias desenvolvidas estão “between a rock and a hard place”. Não há “bala de prata”. Não existem soluções perfeitas. Contudo, a opção de hoje me pareceu uma tentativa desesperada de ganhar tempo antes de adotar medidas fiscais e monetárias mais austeras.

 

Talvez, o mercado venha a pressionar os ingleses até que essas medidas sejam adotadas.


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