Back To The Game
By Dan Kawa
Baterias recarregadas. É hora de voltar
a (dura) realidade e o momento de refletir sobre os acontecimentos da última
semana.
Primeiro, duas indicações de leituras
feitas neste período: “The Almanack of Naval Ravikant” e “Atomic Habits”. Dois
livros curtos, de fácil leitura, focados no nosso dia a dia e como podemos
melhorar como pessoas.
A semana foi marcada por alguma descompressão
dos ativos de risco, que me parece ter sido ajudada por:
·
Retorno
do fluxo de gás para a Europa, da Rússia, após período de manutenção do
gasoduto. Existia um risco de o gasoduto não ser religado
·
Fed
indicando que subirá os juros em 75bps na próxima reunião, ao contrário dos
100bps que se chegou a ser especulado
·
Uma
temporada de resultados corporativos nos EUA, até o momento, “menos pior” do
que o mercado havia se preparado
·
Dados
econômicos que ainda não mostraram, de forma inequívoca, uma recessão nos EUA
·
Uma vez
mais, questão técnicas, com um mercado excessivamente negativo no curto-prazo
A despeito desses vetores mais
positivos (na verdade, menos negativos) ainda não vejo uma mudança estrutural
relevante nos principais desafios do mercado:
·
O BCE
elevou os juros em 50bps na Europa, acima do esperado
·
Há claros
sinais de recessão na Europa, em um ambiente de inflação alta e necessidade de
aperto das condições financeiras
·
A
situação na China segue extremamente delicada. O mercado imobiliário sofre uma
nova onda de pressão e não há sinais consistentes de estabilização da economia do
país
·
Os PMIs
globais, divulgados ao final da semana, mostram sinais mais evidentes de
desaceleração e aumento do risco de recessão
·
O Fed não
poderá encerrar o seu processo de alta de juros em um ambiente de inflação
ainda alta, mesmo diante da desaceleração do crescimento
Alguns movimentos de mercado merecem
destaque:
·
A despeito
da estabilização do mercado de commodities, há claros sinais de fragilidade neste
nicho de mercado e elas não estão conseguindo mostrar uma recuperação mais
robusta, mesmo com a melhora das bolsas
·
Forte
fechamento das taxas de juros, especialmente as taxas longas dos países do G10.
O mercado precifica que os BCs terão que subir mais os juros no curto-prazo,
mas serão obrigados a cair os juros na sequência devido à pressão no
crescimento
·
A queda nas
taxas de juros ajudou os ativos com mais duration, como o setor de “crescimento”
das bolsas globais, o que acabou ajudando índices mais concentrados neste
setor, como o S&P e a Nasdaq
·
Índices
de bolsa mais “cíclicos” como o Ibovespa sofreram com a queda das ações de
commodities
·
No
Brasil, a deterioração do quadro fiscal e as indicações dos candidatos a presidente
estão colocando pressão no mercado de juros e no câmbio
A despeito da movimentação do mercado
esses dias, ainda não estou disposto a alterar minha visão estrutural para o
cenário econômico e os mercados.
Ainda espero um ambiente de inflação
mais alta por mais tempo (mesmo que ela desacelere na margem), o que acarretará
juros mais altos do que o histórico recente (últimos 15 anos). Uma recessão
global me parece inevitável. Só tenho dúvidas da duração e magnitude dessa
recessão.
No Brasil, sem uma visibilidade de
qual será a ancora fiscal do próximo governo, mesmo diante de prêmios de risco
que me parecem excessivos, ainda teremos que conviver com volatilidade.
A narrativa dos mercados continuará
girando de maneira rápida e acentuada. Assim, trabalhar com mais diversificação
do que média e com uma postura mais cautelosa ainda me parece ser a melhor
opção.
*As análises e
opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão
institucional.
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