O Dia D(a inflação)!
Após a divulgação de um Core CPI muito acima das expectativas, o dia foi de forte pressão nas bolsas globais, lideradas pelos setores mais dependentes de juros baixos, como “Tech” e “Growth”, no mundo e no Brasil.
O dia foi ainda marcado por um dólar
forte e por uma abertura generalizada de juros ao redor do mundo.
A despeito da volatilidade do dia,
precisamos colocar a situação em perspectiva. Nas bolsas, no geral, elas vinham
em uma tendência de forte alta, quase que ininterrupta, desde o auge da pandemia,
em março do ano passado. Os níveis e os “valuations”, em geral, eram (e ainda
são, em alguns casos) elevados.
O dólar já apresenta uma trajetória menos
direcional e vem operando em bandas um pouco mais largas nos últimos meses, a
mercê de notícias de curto-prazo e fluxos pontuais.
O mercado de juros, apresentava uma
dinâmica, talvez uma tendência, de abertura de taxas que, apenas nos últimos 2
meses, apresentou alguma acomodação. O mesmo não pode ser dito sobre as comodities,
que vinham em um claro movimento de alta, também sustentada por questões de
oferta.
Em linhas gerais, a “reflação” era um
tema dominante no início do ano que não foi esquecido, mas ficou adormecido por
algumas semanas, após uma acomodação das taxas de juros no mundo desenvolvido e
novas “ondas” da pandemia nos países emergentes.
A inflação de hoje nos EUA, aliada a
sinais cada vez mais evidentes de pressões inflacionárias no mercado de trabalho,
na cadeia produtiva global, em vários setores da economia, apenas retoma o tema
de “reflação” no mundo.
A alta de 0,9% MoM no núcleo da inflação
americana, maior alta da história, certamente está distorcida por questões pontuais,
como o preço de carros usados. Contudo, há sinais claros de espalhamento da
inflação.
Até agora, era reconfortante ouvir do
Fed que a inflação seria transitória. Chegará um momento (ou chegou o momento)
em que o mercado poderá se sentir desconfortável com essa sinalização e essa
postura, acreditando que o Banco Central está cometendo um erro de política
monetária.
Por outro lado, o mercado já vive a
décadas sem uma experiência concreta de inflação nos EUA. Então, não será de um
dia para o outro que este cenário irá se entrincheirar no preço dos ativos.
Isso levará tempo e novos dados econômicos.
Nada disso seria problema se os
preços e “valuations” dos ativos estivessem ajustados para esses riscos
inflacionários, mas muitos ativos negociavam com “dinâmica de bolha” (SPACs, Tesla,
Bitcoin, Ark ETF, entre outros) e começam, agora, a voltarem para outros
níveis.
De maneira geral, espero um cenário
de maior volatilidade pela frente. Ainda não vejo o mercado internacional “emburacando”
para baixo (queda de 15%-20% no curto-prazo), mas não me surpreenderia com realizações
pontuais (quedas entre 5%-15% dos índices norte-americanos).
O Brasil será refém do cenário
externo, uma vez que somos uma economia alavancada e sem sinais consistentes de
ajuste.
*As análises e
opiniões são pessoais e não representam, necessariamente, uma visão
institucional.
Dan
H. Kawa
CIO
TAG Investimentos
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