Brasil: Ruídos no processo de impeachment.

A quarta-feira pode ser classificada como um dia de digestão dos ativos de risco em relação aos eventos recentes, no cenário local e externo.

No Brasil, após apresentar bom desempenho ao longo da manhã, o mercado de juros e renda variável apresentaram forte reversão pela tarde, em um misto de realização de lucros e reação a possíveis obstáculos ao processo de impeachment. Há sinais de que os ministros do PMDB podem não abandonar os seus cargos, assim como existe um esforço do governo para cativar partidos que ainda fazem parte de sua base de apoio. Na minha visão, o impeachment continua sendo o cenário mais provável, exceto por novidades no tocante a Operação Lava-Jato. Movimentos e notícias como as verificadas na tarde de hoje não devem passar de ruídos pontuais. Contudo, não podemos descartar movimentos de consolidação ou realização de lucros, especialmente frente ao movimento já observado nas últimas semanas. No mercado de juros, em especial, já parece haver uma posição técnica um pouco menos favorável no curto-prazo (a correlação dos fundos locais aos mercado de juros aumentou expressivamente nas últimas semanas). Vale ressaltar, contudo, que o cenário base continua sendo de impeachment e de um cenário político mais positivo, permeado por realizações de lucro que, por hora, devem ser vistas como pontuais e localizadas.

O BRL apresentou desempenho mais positivo, seguindo o humor global em relação ao USD e após o BCB colocar apenas uma fração dos swaps reversos ofertados hoje.

No tocante ao cenário econômico, os dados fiscais consolidados de fevereiro apenas confirmaram o que já havia sido antecipado ontem, ou seja, um ambiente extremamente desafiador para o ajuste das contas públicas. Nas palavras de nossa área econômica: O superávit primário no acumulado do ano (no primeiro bimestre) foi bastante fraco, em 0,5% do PIB. Vale mencionar que no começo do ano os resultados fiscais costumam ser bastante favoráveis (as despesas são mais concentradas no segundo semestre, por exemplo) e a tendência é que os resultados piorem até o final do ano. Além disso, houve uma discrepância estatística de quase R$6bi, em janeiro, a qual favoreceu o resultado primário acumulado no ano em 2016. Em resumo, os números fiscais desse começo de ano estão sendo estupidamente fracos!  


Nos EUA, o ADP Employment apresentou uma saudável criação de 200 mil vagas de trabalho em março. O dia foi de bom desempenho dos ativos de risco, especialmente de enfraquecimento do dólar no mundo. Contudo, há sinais incipientes de fadiga deste movimento na parte da tarde. Por hora, fica difícil ficar na frente deste fluxo, especialmente após as declarações de Yellen ontem. Apenas dados econômicos mais robustos nos EUA, especialmente no tocante aos salários (wages) e emprego, serão capazes de reverter definitivamente estas tendências.

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