Risk-off

Os mercados globais encerram a semana com a mesma dinâmica que prevaleceu ao longo dos últimos dias, leia-se, pressão nas commodities, lideradas pelo petróleo. A continuidade do processo de ajuste de preço das commodities colocou os ativos dos países emergentes em situação mais delicada, o que levou a um movimento global mais correlacionado de “risk-off” e dólar forte.

Os dados divulgados nos últimos dias não alteram em nada o cenário desenhando neste fórum após a decisão do FOMC e a divulgação dos dados de emprego nos EUA. Como alertamos na semana passada, os ativos de risco reagiram de maneira clássica aos números de emprego nos EUA no final da semana passada, com abertura de taxa de juros, com a Treasury de 10 anos rompendo o patamar de 2,25%, o que acabou dando suporte ao dólar no mundo e colocando pressão nas commodities e nos ativos emergentes em geral. Acredito que estes movimentos devam continuar nos próximos dias. Não espero uma “hecatombe” dos mercados, mas um movimento gradual e prolongado nestas direções. Eu continuo acreditando em um fortalecimento estrutural do dólar no mundo. Vejo o cenário de curto-prazo (sinalização do Fed e do ECB, crescimento ainda frágil na China e etc) como reforçando esta visão, e sendo um propulsor para uma rodada adicional de fortalecimento da moeda norte americana. Acredito que o cenário macro seja saudável para as bolsas dos países desenvolvidos, mas vejo pouco valor nos atuais níveis, em especial nos EUA (início de um processo de alta de juros, fim do “earnings growth” e etc). Acredito que as commodities e os ativos emergentes em geral estão em um processo estrutural de ajuste, que ainda parece não ter chegado ao fim. No tocante aos juros norte americanos, o rompimento do atual patamar de 2,25% da Treasury 10 anos pode ser a senha (ou trigger) para mais uma rodada na direção dos eventos comentados acima.

Brasil – Os ativos locais continuam focados no cenário político, tendo em vista que não há mudanças substanciais de cenário econômico que justifiquem uma mudança estrutural para a economia do país. É verdade que o governo foi capaz de aprovar a “Lei de Repatriação” nesta semana, assim como manteve a meta de superávit primário de 0,75 para 2016. Contudo, o texto da “Repatriação” colocou em “xeque” a efetividade dos fluxos que poderiam vir ao país, assim como o tamanho da arrecadação que poderia gerar aos cofres públicos. A meta de superávit para 2016 em 0,7% é positiva, mas as sinalizações são de que está meta só será atingida via aumento de impostos, o que complica ainda mais a vida do BCB no tocante a política monetária.

Os rumores em torno do Ministro da Fazenda continuam por toda a parte. Minha visão em relação ao tema é de que o problema do país não está no Ministro, mas no ambiente político. Entendo que Levy tenha perdido poder e credibilidade. Uma mudança poderia ser positiva para “oxigenar” o projeto de ajuste econômico e, principalmente, fiscal, mas parece difícil, do ponto de vista atual, acreditar que um novo nome seja capaz de alterar a de maneira relevante o quadro atual. Henrique Meirelles, que vem sendo cotado para o cargo, segundo a mídia, parece ser um candidato com as características necessárias para o cargo, mas precisaria do apoio do governo e da base aliada no congresso.

O BRL acabou apresentando desempenho mais negativo nesta sexta-feira, mas continua com desempenho relativo muito melhor do que os seus pares nos últimos 30 a 45 dias. A curva de juros apresentou forte flattening ao longo da semana, com uma interpretação de que o BCB poderia elevar os juros nos próximos meses, mas precisamente no começo do ano que vem. Ainda vejo a parte curta da curva como “fair” nos atuais níveis e vejo pouco prêmios nos vértices mais longos.

EUA – A despeito das vendas no varejo de outubro terem ficado levemente abaixo das expectativas, o Michigan Confidence subiu de 90,0 para 93,1, acima das expectativas de 91,5. A divulgação dos dados de estoques elevou o tracking para o PIB do 3Q, mas em detrimento a um menor crescimento no 4Q. As expectativas de inflação do Michigan mantiveram nos níveis mais baixos dos últimos anos.

Salvo uma mudança substancial de cenário, não vejo esses números alterando a perspectiva do Fed começar um processo de alta de juros em dezembro. O foco agora deverá se reverter para o caminho que será seguido após a primeira alta.

Europa – O PIB do 3Q acabou ficando levemente abaixo das expectativas, com elevada discrepância entre os países membros. Os números reforçam a visão de que a região está passando por um processo cíclico de desaceleração. Por hora, ainda parece cedo para alterar a visão de um crescimento baixo, porém saudável, em torno de 1,5%-2% neste no próximo ano. O ECB já se mostrou preparado para agira caso o cenário prospectivo não mostre avanços na direção de uma inflação e um crescimento mais altos.


China – Os dados de atividade, inflação, crédito e balança comercial mostraram uma economia ainda fragilizada, o que foi um dos principais vetores para uma rodada adicional de pressão nas commodities e nos países emergentes. É natural esperarmos novas medidas de suporte ao crescimento nos próximos meses. Contudo, por hora, não há sinais de que o governo está sendo bem sucedido em sua empreitada para estabilizar a economia.

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