Fed em Foco.

Os dados do mercado de trabalho de outubro, nos EUA, foram inequivocamente positivos. Observamos uma solida criação de vagas de trabalho (271 mil), uma alta no Average Hourly Earnings (0,4% MoM  e 2,5% YoY) e uma queda na taxa de desemprego, para 5%. O número elevou a probabilidade de uma alta de juros em dezembro, por parte do Fed, para em torno de 75%, de acordo com a curva curta de juros do país.

Os ativos de risco reagiram de maneira clássica aos números. Abertura de taxa de juros, com a Treasury de 10 anos rompendo o patamar de 2,25%, o que acabou dando suporte ao dólar no mundo e colocando pressão nas commodities e nos ativos emergentes em geral.

Acredito que estes movimentos devam continuar nos próximos dias. Não espero uma “hecatombe” dos mercados, mas um movimento gradual e prolongado nestas direções. Eu continuo acreditando em um fortalecimento estrutural do dólar no mundo. Vejo o cenário de curto-prazo (sinalização do Fed e do ECB, crescimento ainda frágil na China e etc) como reforçando esta visão, e sendo um propulsor para uma rodada adicional de fortalecimento da moeda norte americana. Acredito que o cenário macro seja saudável para as bolsas dos países desenvolvidos, mas vejo pouco valor nos atuais níveis, em especial nos EUA (início de um processo de alta de juros, fim do “earnings growth” e etc). Acredito que as commodities e os ativos emergentes em geral estão em um processo estrutural de ajuste, que ainda parece não ter chegado ao fim. No tocante aos juros norte americanos, o rompimento do atual patamar de 2,25% da Treasury 10 anos pode ser a senha (ou trigger) para mais uma rodada na direção dos eventos comentados acima.

O Brasil ainda parece estar vivendo em um mundo à parte. Após seguir o movimento global, o BRL e os juros apresentaram rápida e acentuada melhora ao longo da tarde, sem uma explicação específica. Minha visão segue inalterada em relação ao país e seus ativos, mas temos que respeitar a dinâmica do mercado. A posição técnica e os fluxos podem estar afetando a performance dos ativos locais no curto-prazo. Ainda vejo imensos desafios, locais e externos, que não justificam os atuais níveis de preço dos ativos locais, exceto pela equalização da crise política, seja pela aprovação de medidas fiscais concretas (CPMF?), ou por uma mudança drástica do quadro político (maior apoio do atual governo no congresso, mudança de governo ou outro evento desta magnitude).


 O IPCA de outubro apresentou alta de 0,82% MoM e 9,93% YoY, basicamente em linha com as expectativas. Os núcleos e a difusão continuam em patamar elevados. O diretor do BCB Tony Volpon deu um extenso e detalhado discurso na tarde desta sexta-feira, esclarecendo de maneira mais direta qual seria a função de reação do BCB, na visão particular dele. Em linhas gerais, o BCB ainda está comprometido com a convergência da inflação para a meta, apenas alterou o horizonte de convergência devido a vetores fora de seu controle (fiscal, câmbio). Segundo ele, o BCB não irá se furtar em elevar as taxas caso haja uma deterioração adicional de cenário. Neste ambiente, não vejo prêmios claros na parte curta da curva de juros, que parece “fairly priced”. Ainda acredito que os vértices longos apresentam pouco prêmio em relação aos vértices mais curtos, especialmente com os desafios fiscais impostos pelo atual ambiente e pela perspectiva de alta de juros nos EUA.

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