Update

Como comentei ao longo da quarta-feira, vejo o rompimento do patamar de 2,00% nas Treasuries de 10yrs como um movimento técnico relevante, que pode acabar puxando o mercado a níveis mais elevados, em torno de 2,20%-2,25%. Este movimento, caso confirmado, tenderia a ser negativo para os ativos de risco em geral, como bolsas, moedas e commodities. Não podemos desprezar os sinais do mercado, o que requer maior cautela nos portfólios no curto-prazo.

A sexta-feira teve uma pitada de “tempestade perfeita” para o mercado de renda fixa e câmbio no Brasil. O dia foi de USD forte no mundo, continuidade do sell-off nos bonds dos países desenvolvidos, números de emprego e renda nos EUA acima das expectativas, uma decisão percebida como hawkish por parte do Copom e um número fiscal fraco para o mês de março no Brasil. Neste ambiente, não é surpresa o movimento de cerca de 2% de depreciação do BRL e a abertura em torno de 20bps ao longo da curva de juros.

Do ponto de vista local, o BCB provou, uma vez mais, que está totalmente comprometido com seu programa de retomar a credibilidade perdida nos últimos anos, com um objetivo claro de trazer a inflação e suas expectativas ao centro da meta, nem que para isso ele precise elevar a taxa de juros para níveis ainda mais elevados. Acredito que o cenário base seja de uma alta adicional de 25bps, com o ciclo sendo encerrado em seguida. Contudo, faltando cerca de 40 dias para a próxima reunião, e com o pano de fundo externo descrito acima, é natural que o mercado trabalhe com a probabilidade entre 25bps e 50bps para o próximo Copom. A Ata poderá explicitar melhor este cenário. O mercado hoje precifica altas de 40bps+18bps nas próximas duas reuniões do Copom, sem precificar quedas expressivas até o segundo semestre de 2016. Ainda vejo valor na parte intermediária da curva local de juros.

O BRL, por sua vez, está seguindo o humor global em torno do USD, mas com o terceiro dia consecutivo de desempenho relativo pior. A despeito da acomodação no curto-prazo, ainda vejo a depreciação cambial como um processo saudável e necessário de ajuste para a economia doméstica. Abaixo de 3,00, acredito que haja uma demanda estrutural por USD no mercado local.

Se os números de emprego e renda divulgados hoje nos EUA forem seguidos de sinais mais claros de estabilização da economia norte americana no segundo trimestre, não descarto que a tendência de fortalecimento do USD no mundo volte a imperar. Já temos uma posição técnica mais limpa, a dinâmica do USD (ex-EUR) parece ter mudado nos últimos dias, e os fundamentos começam a dar sinais na direção de estabilização do quadro inflacionário nos EUA, com a continuidade da melhora no mercado de trabalho.

No cenário externo, sigo com a mesma cabeça explicitada neste forum desde a tarde de ontem (descrita no começo deste forum), com a adição de que o Jobless Claims e o ECI nos EUA divulgados hoje mostraram um movimento de continuidade de fechamento do hiato do produto norte americano, o que pode trazer confiança ao Fed no processo de normalização monetária.

EUR – o EUR, na minha visão, continua em um movimento técnico de “short squeeze”. Além da abertura de taxas de juros na região, uma posição técnica muito vendida na moeda, em um ambiente de leve aversão a risco global, parece estar dando suporte a moeda. Fundamentalmente, tivemos algumas notícias menos negativas, como a estabilização do CPI, os sinais mais positivos provenientes da Grécia, a melhora nos agregados monetários, mas nada que justifique um movimento estrutural de alta na moda. Mantidas as condições descritas acima, não vejo este movimento como sustentável. Neste momento, porém, fica difícil prever até onde o movimento pode chegar.


EUA – O Jobless Claims caiu de 296k para 262k, com o ECI apresentando alta de 0,7% QoQ. Os números de hoje dão força a tese de que o hiato do produto dos EUA está se fechando, e podemos passar por um processo gradual de elevação da inflação. Caso estes sinais sejam confirmado pelos próximos dados, especialmente os dados de emprego de abril, a serem divulgados na sexta-feira dia 8 de maio, poderemos passar por uma nova reprecificação dos ativos de risco, com as tendências que imperaram no começo do ano voltando a dominar a dinâmica dos ativos de risco (USD forte, commodities em queda, pressão sobre os ativos emergentes, abertura de taxas de juros entre outros).

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