China, Grécia e política local...

Resumo: O final de semana trouxe um noticiário mais positivo do ponto de vista externo, mas um ambiente mais desafiador politicamente no Brasil. A China promoveu um corte de 100bps no compulsórios bancário. A medida era esperada, porém mais agressiva do que as expectativas. A "surpresa" deve ser vista como positiva para os ativos de risco no curto-prazo, mas não altera os desafios estruturais para a economia. No Brasil, crescem os argumentos jurídicos para o impeachment. A incerteza de curto-prazo pode ser negativa para o cenário local, mesmo sendo positiva para o longo-prazo. Na Grécia, um jornal local fala em um possível acordo entre o país e os credores, o que deve empurrar o problema de sustentabilidade da dívida por mais alguns meses, mas reduzir o risco de cauda no curto-prazo. Um acordo também deveria ser bem visto pelos ativos de risco.

O destaque do final de semana ficou por conta do corte de 100bps no compulsório bancário na China (RRR), com algumas instituições sendo favorecidas com cortes ainda maiores. A medida anunciada este domingo já era esperada, mas a magnitude do ajuste e superior às expectativas. Os cortes anteriores de RRR eram entre 25 e 50bps. A postura mais agressiva e proativa do policy maker chinês na condução da política monetária, fiscal e crediticia tem sido bem recebida pelos ativos de risco, com as bolsas chinesas apresentando uma forte alta nos últimos meses e, mais recentemente, os ativos dependentes da demanda da China mostrando recuperação (commodities, moedas dependentes de Commodities e etc). Assim, o ajuste de compulsório anunciado neste domingo deve ser visto como positivo pelos ativos de risco. De qualquer maneira, a medida é apenas uma resposta a um cenário ainda extremamente desafiador do ponto de vista de crescimento para o país. Acredito que as medidas anunciadas nos últimos meses serão capazes de estabilizar a economia, mas sou cético em relação a uma melhora mais sustentada do crescimento local. Acredito que teremos que conviver com um menor crescimento estrutural do país, com o governo buscando promover reformas estruturais, e manter o processo de desaceleração de forma suave e bem administrada. Ainda vejo um risco, contudo, de as medidas não sejam suficientes, e o país entre em um processo mais acentuado e prolongado de menor crescimento.

No Brasil, o destaque dos jornais ficou por conta das prisões de André Vargas, João Vaccari e sua cunhada. O fechamento do cerco ao núcleo do PT parece estar avançando, o que traz uma nova dinâmica, e novas incertezas, ao quadro político brasileiro. Segundo um artigo do Correio Braziliense de sábado, Vargas já estuda aceitar um acordo de delação premiada. Caso este fato seja consumado, será um grande obstáculo, e um enorme risco ao governo. O congressista foi abandonado pelo partido, expulso da sigla, e agora terá a oportunidade de "vingança". No caso de Vaccari, a prisão de sua cunhada, na sexta-queira, aumenta o risco de que a Operação Lava-Jato chegue ao centro do poder do PT/governo. Assim, é natural esperar que aumente a temperatura em Brasília nos próximos dias, com o processo de impeachment se tornando uma palavra cada vez mais usual, não apenas na mídia, como no meio político. Na tentativa de capitalizar este momento, a oposição vem elevando o tom de seu discurso, buscando não apenas um evento jurídico capaz de levar ao afastamento da presidente, como colocando em prática uma nova CPI para investigar as operações do BNDES. Este ambiente se desenvolve em um pano de fundo de baixíssima popularidade do governo, com uma ampla maioria da população a favor do afastamento de Dilma, segundo pesquisas recentes. 

Acredito que um impedimento deste governo seria positivo para o país e para os mercados locais no médio-prazo, especialmente se novas eleições forem convocadas. Na minha visão, Aécio Neves surge como o principal candidato em uma eventual eleição, o que seria uma mudança positiva para o quadro local. Entendo, contudo, que o aumento da incerteza em um eventual processo de impeachment possa acabar parando/congelando o país economicamente e politicamente no curto-prazo, em um ambiente ja desgastado e fragilizado. Assim, com uma incerteza maior, não descarto rodadas negativas para os ativos do Brasil.

A revista Época traz grande reportagem neste final de semana tentando ligar a consultoria de Antônio Palocci a caixa dois da campanha de Dilma em 2010 e, eventualmente, em 2014. Os moldes utilizados por Palocci e Dirceu, de acordo com a revista, seriam muito semelhantes, utilizando suas consultorias como meio de captar recursos para o partido. Se confirmadas as suspeitas, seria mais um enorme obstáculo ao atual governo.

Em reunião do FMI em Washington, Levy manteve o tom de comprometimento com o ajuste fiscal, declarando que a Petrobras está próxima de "virar a página" na questão do balanço. Além disso, afirmou que o governo irá divulgar em breve um novo cronograma de concessões. Os sinais emitidos pela equipe econômica continuam positivos. Porém, os riscos de curto-prazo, que vem se deteriorando nos últimos dias, são de natureza política.

Na Grécia, um artigo de um jornal local afirma que o país chegou a um acordo junto aos seus credores. A fonte da matéria, porém, não foi confirmada. Se confirmado o teor do artigo, será mais uma confirmação que, a despeito dos ruídos pontuais nas negociações, uma solução intermediária sempre eé encontrada na ultima hora. Seria positivo para os ativos de risco. Contudo, o teor do artigo ainda precisa ser confirmado. Por hora, não há sinais concretos e oficiais de um acordo entre as partes.

* Greece Creditors Accept Government Budget Target, Mega TV Says

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