Update da Semana

A sexta-feira foi de price-action interessante nos mercados financeiros locais e globais. No Brasil, a apreciação do BRL foi ajudada pelo movimento global de USD fraco. Na minha visão, apenas um clássico movimento de ajuste de posições (e acomodação) após um período prolongado e acentuado de USD forte no mundo. O movimento estrutural ainda me parece ser de USD forte no mundo, mas ainda podemos ter um curto-prazo de consolidação das moedas, especialmente vis-à-vis posições técnicas já bastante compradas em USD. O fluxo estrangeiro para renda fixa neste começo de ano, com os “Real Money colocando dinheiro para trabalhar”, parece estar ajudando o movimento do BRL. No mercado de juros, o IPCA em linha com as expectativas em novembro, e mais uma rodada de fechamento de taxas globais de juros, favoreceram um forte fechamento de taxa da parte intermediária e lomga da curva. Ao contrário do que ocorreu ao longo de toda semana, a curva voltou a “flettar”, após um movimento relevante de “stepenning” ao longo da semana, também em linha com o ocorrida na curva de juros americana. As evidencias de baixo crescimento, acentuadas pelos últimos desdobramentos da operação Lava Jato, estão ajudando o humor geral para o mercado local de juros. No mercado de crédito, após o default, e consequente  anuncio de reestruturação da dívida da OAS, o mercado segue fechado para as empresas locais, a despeito de uma janela de captação aberta ao redor do mundo. Na bolsa, o baixo crescimento, aliado aos ruídos externos e aos problemas recentes no mercado de crédito, acabaram ajudando mais um dia de queda dos índices locais.

No cenário externo, como comentei neste fórum ontem, Apesar de um pano de fundo relativamente estável e positivo para os ativos de risco, alguns riscos ainda pairam sobre o cenário de curto-prazo, e demandarão cautela nos próximos dias. A eleição parlamentar na Grécia parece ser o maior e mais relevantes desses riscos. O petróleo não mostra sinais consistentes de estabilização, e o Fed parece convicto na recuperação econômica americana, abrindo uma janela para uma eventual alta de juros em algum momento deste ano. Estes vetores acabaram voltando à tona na sexta-feira, o que favoreceu um movimento global de queda nas bolsas, fechamento de taxas de juros, USD fraco e mais uma rodada de queda no preço do petróleo e dos metais não preciosos. Vale mencionar a forte pressão sobre os bancos europeus, após o anuncio de recapitalização feito pelo Santander na quinta-feira. Além disso, as breakeven inflations, na Europa e nos EUA, seguem em forte dinâmica de queda, o que coloca os BC´s dos países desenvolvidos em situação extremamente complica.

Acredito que estamos, mais uma vez, no meio de um ambiente de incerteza, com algumas classes de ativos com posições técnicas ruins, como é o caso do USD. Assim, acredito que ainda teremos volatilidade alta para os ativos de risco no curto-prazo. Mantenho minha visão um pouco mais cautelosa, onde as bolsas podem ter um período maior de consolidação/realização, assim como o USD. Ainda vejo um ambiente negativo para as commodities metálicas, devido ao cenário de crescimento chinês e a normalização da política monetária americana. Neste ambiente, os bonds dos países desenvolvidos podem continuar com boa demanda. Para os ativos emergentes, resta a dúvida se este pano de fundo irá se desenvolver em um ambiente de “risk-off” mais generalizado, ou não. Ainda acho cedo para ter esta conclusão. Então, me parece que a escolha de posições mais macro locais seja a melhor postura neste momento. Ainda vejo valor na parte intermediária e longa da curva de juros no Brasil. Acredito que o USDBRL está em período de consolidação, e ainda pode apresentar novas rodadas de apreciação. Contudo, me parece razoável olhar para algumas estruturas de opção, altistas para o USD, como hedge para o book de juros.

Brasil – A PIM de dezembro foi muito abaixo das expectativas do mercado. Os primeiros indicadores antecedentes de dezembro apontam para mais um mês de queda (“Negative signals for manufacturing in December: According to ABCR, the flow of heavy vehicles on toll roads (highly correlated to industrial output) dropped 1.4% m/m in December. Our preliminary estimates for December industrial production points to a 1% m/m declined (November: -0.7%). From Itaú). Os desdobramentos da Operação Lava Jato devem ser sentidos nos próximos meses. É razoável supor que o ajuste fiscal também seja contracionista ao longo do ano. A inflação, por sua vez, ainda irá se mostrar pressionada neste começo do ano, especialmente devido aos reajustes administrados. Existe uma expectativa, contudo, que o grupo alimentação possa acabar recuando nos próximos meses, pelo menos pelo o que foi visto nos IGP´s/IPA´s essa semana. Em suma, o BCB irá se deparar com um cenário extremamente desafiador sua frente. De qualquer maneira, ainda acredito que a fraqueza da atividade irá fazer com que o ciclo de alta de juros não se estenda por muito tempo.

China – Os indicadores de atividade de dezembro serão de suma importância para os mercados. Estou com um viés mais negativo para o país, mas que precisará ser reavaliado após os números de crescimento do final de 2014. A economia mostra pouca capacidade de reação nos últimos meses, e os problemas no mercado imobiliário e de crédito voltaram a pairar sobre o mercado. Ainda vejo um ambiente negativo para os ativos que dependem da demanda chinesa. Este processo de ajuste de preços dessas classes de ativos pode ser gradual, como tem sido até agora (vide Cobre, Minério de Ferro, AUD e afins) ou, em algum momento, se tornar mais rápido, acentuado e desordenado, caso um problema maior no mercado de crédito não seja devidamente administrado.

EUA – Após os números divulgados essa semana, o mercado elevou sua expectativa para o PIB do 4Q, para próximo a 3.5% anualizado, subindo de menos de 2% a poucas semanas atrás. Os indicadores de emprego de dezembro, divulgados ontem, confirmam um quadro de robustez da economia, mas sem nenhum sinal concreto de pressão inflacionária. Assim, o Fed deve manter o seu “plano de voo”. O FOMC será gradual no processo de normalização monetária, enquanto não houver sinais de inflação adjacente. Contudo, na atual conjuntura economia, ainda é razoável supor que os juros no país irão ser elevados em algum momento até o segundo semestre do ano.

Europa – As expectativas em torno de um QE mais amplo e agressivo estão se acumulando e, aos poucos, sendo totalmente precificado pelos ativos. O ECB vem ventilando uma série de opções que devem ser levadas em conta na reunião deste mês. Com a região passando por um crescimento pífio, a inflação baixa e cadente e as expectativas de inflação em queda livre, parece cada vez mais urgente uma atuação por parte de Draghi e Cia. O risco, neste momento, e que as medidas não sejam agressivas o suficiente para atender a demanda do mercado e da economia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Juros Brasil

Daily News – Brasil: Para o Alto e Avante – Parte II

Daily News – Um Risco de Cauda Positivo?